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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Louro: do quintal para a cozinha,
com toda a nobreza!


“Alto, bonito e majestoso, Apolo - o deus da música e da poesia - se fazia notar principalmente por suas mechas negras, com reflexos azulados, “como as pétalas do pensamento”. Muitos foram os seus amores com ninfas, como Dafne - a ninfa náide filha do deus-rio Peneu, na Tessália. Esse amor lhe fora instilado por Eros - filho de Afrodite -, de quem o deus gracejava. É que Apolo, julgando que o arco e a flecha eram atributos seus, certamente considerava que as flechas de Eros não passavam de brincadeira. Acontece que o filho de Afrodite possuía tanto a flecha que inspira amor, como a que provoca aversão. Para se vingar de Apolo, Eros feriu-lhe o coração com a flecha do amor e a Dafne com a da repulsa e indiferença. Foi assim que, apesar da beleza de Apolo, a ninfa não lhe correspondeu aos desejos e fugiu para as montanhas. O deus a perseguiu e, quando viu que ia ser alcançada por ele, pediu a seu pai, Peneu, que a transformasse. O deus-rio atendeu-lhe as súplicas e transformou-a em um loureiro, em grego “dáphne”, a árvore predileta de Apolo.

A origem mitológica e outros atributos do loureiro podem justificar seu nome científico: Laurus nobilis L.,  também chamado loureiro-dos-poetas ou loureiro-de-apolo. É que desde os tempos em que se adornavam os vencedores das olimpíadas gregas com uma coroa de louro, até hoje, a planta é usada como prêmio por uma ação nobre ou ilustre.

Na Idade Média, era empregado como proteção contra  demônios e bruxas e, também, na proteção das casas contra os raios das tempestades.

No Brasil, o louro é considerado uma “planta da sorte” - dizem que numa casa onde há um loureiro plantado, sempre haverá fartura. Outra tradição sugere que a planta deve ser cultivada com todo o cuidado, pois quando um loureiro morre é sinal que algum desastre vai acontecer. E mais: o louro é tido um ótimo purificador de ambiente: costuma-se queimar suas folhas secas como incenso para eliminar tanto odores desagradáveis como energias negativas.

Planta da família das Lauráceas, suas folhas aromáticas são muito utilizadas como tempero na culinária e apresentam propriedades anti-sépticas, estimulantes e sedativas. Como tônico-estomacal, é usado para combater as fermentações anormais do estômago e intestino. Na França, é muito usado na forma de óleo contra o reumatismo. Na medicina veterinária, as folhas e os frutos do louro representam um importante recurso, pois fornecem um óleo parasiticida. Industrialmente, a manteiga ou óleo de louro são usados na fabricação de sabões, velas e em perfumaria.

O loureiro é uma planta originária da Ásia Menor que pode viver até 70 anos. As folhas, onde se concentra a essência da planta, são duras, simples, lisas, de coloração verde-escuro e brilhante na parte superior e verde-pálido e opaco na inferior. As flores pequenas e amareladas, dispostas na axilas das folhas, acrescentam à planta uma cor entre o dourado e o castanho-claro. Dizem que foi justamente esta tonalidade que inspirou a denominação dos cabelos louros.

As flores dão origem a frutos em forma de pequenas bagas ovais, que de verdes passam a preto, contendo uma só semente.
É muito importante reconhecer as folhas do verdadeiro Laurus nobilis L., que não devem ser confundidas com as do loureiro-rosa nem com as do loureiro-cerejeira (Prunus laurocerasus) que são venenosas.

Cultivo e tratos

Arbusto de 2 a 5 metros, o loureiro não é uma planta muito resistente, nem muito tolerante. Precisa de clima ameno, suporta ventos fortes, calor excessivo e geadas, entretanto, é muito exigente quanto à luminosidade: é necessária boa dose de luz solar. O solo indicado para o plantio deve ser bem drenado, fértil e rico em matéria orgânica.

A multiplicação do loureiro por meio de sementes é o método mais demorado e difícil. A propagação por meio do transplante de mudas que crescem ao pé do tronco e por estacas são mais simples e rápidas. No caso das estacas, estas devem ser retiradas dos ramos, com 25 cm de comprimento, sem cortar nenhuma folha e plantadas na mesma terra da planta-mãe (ou num solo fértil e úmido), até que tenham enraizado e possam ser transferidas para o local definitivo. O uso de um pó de hormônio enraizador pode acelerar o processo.

Com a forma arbustiva, o louro pode ser plantado num quintal pequeno ou até em vasos, desde que sejam feitos reenvasamentos sucessivos, de acordo com o seu desenvolvimento, em recipientes cada vez maiores. Apesar de ser uma planta de clima temperado, o louro pode ser cultivado nas regiões tropicais , suportando bem temperaturas elevadas, porém, nessas condições, apresenta um crescimento muito pequeno, sendo raríssimas as ocasiões em que floresce e dá frutos.

Usos
As folhas do louro apresentam propriedades estimulantes e antisépticas. A infusão das folhas, feita de preferência sem os pecíolos, é muito conhecida no Brasil e usada para facilitar a digestão. O óleo extraído das bagas do loureiro, denominado em alguns locais de  “manteiga de loureiro”, é aplicado para aliviar dores nas articulações. Na medicina veterinária, o óleo é aplicado sobre o pelo dos animais para protegê-los das moscas.

Por seus poderes anti-sépticos, o chá de louro também é indicado como um bom escalda-pés para eliminar odores. Há quem indique o louro para curar a insônia: é só colocar algumas folhas no meio do recheio do travesseiro.

Nas cozinhas antigas, costumava-se colocar folhas de louro dentro dos potes de farinha para afastar os insetos. Mas a larga utilização na culinária, segundo os especialistas, se deve à sua capacidade de estimular as papilas gustativas.

Ingrediente que acrescenta perfume e sabor ao feijão, sopas e cozidos, o louro é, também, uma das ervas utilizadas no famoso “Bouquet Garni”.

Dica: O “Bouquet Garni”é feito assim: coloca-se ervas frescas e picadas numa gaze ou tecido fino (louro, tomilho, salsa, alecrim, cerefólio, estragão e manjericão são as mais usadas), e amarra-se formando uma trouxinha que é usada para aromatizar molhos, caldos e ensopados.

Curiosidades
 
Na mitologia grega encontramos referências à realização das Tesmofórias – uma festa dedicada à Deméter (deusa e mãe da terra cultivada) como agradecimento pelas últimas colheitas. O segundo dia das Tesmofórias era considerado o “dia do jejum estomacal e sexual”. Em Atenas, as mulheres formavam uma grande procissão e dirigiam-se para o “Pnix”, onde passavam o dia todo em cabanas feitas de ramos, sentadas em folhas de loureiro que, acreditava-se, possuía excelentes virtudes fecundantes.
O louro tem uma simbologia relacionada ao sucesso. A palavra “bacharelato” teria sua origem no latim “baccalaurus”, com o significado “coberto de louros. Além disso, na Roma antiga usava-se ramos de louro para coroar os vencedores de batalhas ou disputas esportivas, assim como os poetas – daí teria se originado o termo “laureado”.


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